O trabalho foi feito em equipe de 4 pessoas, no qual teríamos que representar um veículo impresso, no caso escolhemos a ISTOÉ. As partes foram divididas (minha parte em negrito).
A matéria sobre a entrevista foi produzida em material impresso.
Segue o corpo da Matéria Completa:
A mídia, incluindo as redes
sociais – que hoje assumem lugar de importância na busca por informação e estão
cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas – podem exercer forte influencia
sobre a sociedade, em qualquer que seja o assunto abordado.
Na era da informação
digital, em que consumidores também podem se tornar produtores de conteúdo
informativo, é possível notar uma democratização e libertação de algumas
questões, que antes eram ignoradas e, agora, acabam pautando a grande mídia,
como telejornais e revistas de grande circulação. Um desses temas é os tabus
relacionados ao sexo que, apesar de serem tratados com muito mais abertura, ainda
se nota bastante machismo e romantização. Com essas constatações, trouxemos a
educadora sexual Julieta Jacob para falar um pouco sobre essa influência e
alguns assuntos ligados à sexualidade.
Julieta Jacob, que é formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sempre teve muito interesse em sexualidade e acabou se especializando na área.
Julieta Jacob, que é formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sempre teve muito interesse em sexualidade e acabou se especializando na área.
ISTOÉ - Houve um verdadeiro
frenesi, nas redes sociais devido ao lançamento mundial do filme 50 Tons de
Cinza, principalmente pela parte do público feminino. Baseado numa obra
homônima, a produção cinematográfica conta a história de Anastasia Steele, uma
jovem insegura e tímida, com uma vida pouco interessante. Quando conhece
Christian Grey, um homem mais velho e sedutor que, como em tantas outras
histórias de amor, salva a mocinha da sua realidade sem graça e a leva para uma
vida feliz ao seu lado.
Julieta,
você diz em seu blog que procura explicar conceitos e quebrar preconceitos. Com
a repercussão que o filme 50 Tons de Cinza vem causando, você acredita que as
coisas tendem a mudar? Alguns tabus serão quebrados?
Julieta -
Sim, o sucesso desse filme intrigou muita gente porque teve 1.000.000 de cópias
vendidas e, agora, o lançamento do filme. Mas, na minha opinião, 50 Tons de
Cinza, apesar do seu sucesso, não é, do ponto de vista sexual, uma referência.
Não vi o filme ainda, mas já li muita resenha, então, de fato, o filme, seja
ele uma boa obra cinematográfica, ou não, contribui para quebrar tabus porque,
só em levar o público feminino ao cinema, a comprar um livro erótico – pode ser
um livro erótico ruim, mas é um livro erótico – já quebra um tabu, que é
mulheres se sentirem legitimadas e autorizadas a ler literatura erótica sem que
isso fosse uma coisa vulgar, sem que isso fosse algo ruim pra elas.
ISTOÉ - Com o passar dos anos, se tem notado um início de vida
sexual cada vez mais precoce entre os adolescentes. A que fatores você atribui
este aumento significativo?
ISTOÉ - Se uma educadora sexual orientar os pais de adolescentes a vigiarem as
redes sociais dos seus filhos, inclusive verificando com quem eles conversam e
o conteúdo das conversas, eles não estariam invadindo a
privacidade dos filhos ao agir de tal forma. O que você tem a dizer sobre isso?
Julieta -
Rede social, internet, são assuntos importantíssimos dentro do contexto
adolescente de sexualidade. Pai e mãe são as pessoas que podem ajudar na
maturidade e na responsabilidade dos filhos, mas, de maneira geral, as redes
sociais não são liberadas para menores de dezoito anos. Se esse filtro existe,
tem uma razão de fato, por questão de maturidade e reponsabilidade. Pois, nas
redes sociais, incluindo o whatsapp, existem muitos riscos, entre eles a
pedofilia. A pornografia não é um risco em si, o risco está no adolescente ou a
criança ter acesso a ela de uma maneira não mediada. De maneira geral, eu diria
que crianças e adolescentes não deveriam ter rede social. Não é uma questão de
simplesmente proibir, por que isso excitaria a curiosidade, uma construção proibitiva,
seria feita uma construção de um dialogo que deve vir desde a infância dos pais
com os filhos, sobre todos os assuntos e não só sexualidade.
ISTOÉ - Existem famílias com dificuldades para lidar com o assunto Homossexualidade
com seus filhos. Diante de um cenário de grande exposição midiática dos tipos
de sexualidade, qual a orientação adequada para dar a uma criança que presencie
a troca de afeto entre casais homossexuais?
Julieta - Primeiro, a dificuldade vem do adulto. A criança, muito pelo contrário,
não tem dificuldade nenhuma para entender e sim o adulto para explicar. E, bem,
por mais que algumas pessoas digam “Ah, a pessoa tem amigo gay! Não tem
preconceito e não quer passar preconceito para o meu filho”, muitas vezes o
adulto tem amigos gays e isso não significa que ele não tenha um preconceito
inconsciente, concorde ou ache que se o filho for exposto a um beijo gay vai
virar gay, como se fosse uma varinha mágica. Então, há um desconhecimento sobre
orientação sexual, que é multifatorial e, portanto, não é claro, de fato, como
é formada; mas as pessoas se preocupam muito com a homossexualidade, muito!
Ninguém estuda a heterossexualidade porquê ela é considerada naturalizada em nossa
cultura e em nosso discurso. Se você vier a ser algo diferente do hétero
teremos um problema, pois se espera que o menino goste de menina e a menina
goste de menino. Até a perspectiva de saúde passa por aí. É o que eu digo, tudo
vai partir de uma construção. Se você tem um diálogo legal com o seu filho
sobre qualquer coisa e um casal na rua se beija - e ainda é um desafio para os
homossexuais expor seu afeto nas ruas -, qual será a dificuldade de dizer que
são duas pessoas se beijando? Claro, depende da maturidade da criança, mas você pode
parar por ai porque existe também um medo de “até onde eu posso explicar a
situação? Será que eu vou falar demais para o meu filho? Ou será que eu não vou
falar de menos?” Então, acho que tem de haver um pouco de sensibilidade. Mas eu
acho que estar aberto a um diálogo já é um grande começo.
“
|
A dificuldade vem do adulto. A criança,
muito pelo contrário, não tem dificuldade
nenhuma para entender e sim o adulto
para explicar.”
ISTOÉ -
A edição de fevereiro da revista Nova Escola traz
uma capa com um menino usando vestido e tiara e abaixo da foto a frase
"Vamos falar sobre ele?" Algumas pessoas nas redes sociais disseram
que não era "ele", era "ela" enquanto outras disseram que
com a idade dele (5 anos) ainda não daria pra ter noção de gênero. Então,
existe algum termo pra um menino que se identifica com roupa de menina? Há uma
idade "certa" pra já ser considerado transgênero?
Julieta - Essa questão da idade eu tenho lido
em alguns artigos científicos, o último li em um jornal inglês, que falava de
constatação de transgeneridade em crianças, assumindo que já na infância é
possível diagnosticar um transgênero. Eu diria que entre 5 e 6 anos, é gerado a
orientação sexual, mas isso é controverso, porque a personalidade ainda está em
formação. Não estou falando de identidade de gênero, a orientação sexual já se
definiria na infância. A revista nova escola, é uma exceção, ela está sendo
alvo de críticas e aplausos ao mesmo tempo, por conta o titulo. Em relação a questão da idade, existem estudos que dizem
que pessoas já iriam aflorar isso na infância, e tem outros, e outras linhas
que vão mais pra adolescência, a partir de 15 anos, pois na puberdade isso
seria mais sedimentado. A identidade de gênero ainda é considerada um
transtorno hoje em dia e os médicos estão em discussão sobre. Algumas pessoas
preferem esperar um pouco para que isso se consolide, porque não é uma mudança
tão simples assim. Isso é subjetivo, não dá pra achar que, pôr uma maquiagem,
um batom ou gosta de cor de rosa, faz da pessoa homossexual ou transgênero,
embora isso seja um pouco de homofobia potencial. O que acontece pela falta de
informação de adultos que não entendem sobre o tema.
ISTOÉ - No ano de 2012 um
caso que ganhou muita repercussão foi a atitude de um alemão que aderiu ao uso
de saia por causa do filho de cinco anos que gostava de usar. O que você diria
aos pais que passam por essa situação?
Julieta - Essa é uma pergunta bem complexa. Porque
quando eu falo que o pai e a mãe são referências aos filhos, também cabem a
eles dar limite, porque noção de limite é muito importante dentro da criação.
Eu vi esse caso e achei linda essa história. Eu nunca posso generalizar, mas
nesse caso específico é um menino que gostava muito de usar saia - e eu não sei
até que ponto a família tinha conversado e explicado algo. É uma construção
social e tem de ver também até que ponto você concorda com ela, porque a
criança pode romper com esse papel social que as pessoas colocam para homens e
para mulheres. Existe o fator de sofrimento e trauma de infância mesmo. Eu
conheço histórias de pessoas próximas em que o menino acordava de manhã cedo e
quando os pais o procuravam ele estava com o vestido da irmã, mesmo sabendo que
não podia porque já haviam explicado a ele que aquilo não era adequado para um
menino. Mas isso é algo que muitas vezes é maior, os pais tentam explicar
diferente e esse comportamento continua acontecendo, e consequentemente isso
leva a criança ao sofrimento, e eu acho que nenhum pai e nenhuma mãe quer ver o
filho sofrer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário