quinta-feira, 14 de maio de 2015

Entrevista Coleta: "Mídia e Sexualidade" com a educadora sexual e jornalista, Julieta Jacob

Entrevista feita para a cadeira de Técnica de Entrevista e Reportagem I , no terceiro período.
O trabalho foi feito em equipe de 4 pessoas, no qual teríamos que representar um veículo impresso, no caso escolhemos a ISTOÉ. As partes foram divididas (minha parte em negrito).
A matéria sobre a entrevista foi produzida em material impresso.
Segue o corpo da Matéria Completa:

A mídia, incluindo as redes sociais – que hoje assumem lugar de importância na busca por informação e estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas – podem exercer forte influencia sobre a sociedade, em qualquer que seja o assunto abordado.
Na era da informação digital, em que consumidores também podem se tornar produtores de conteúdo informativo, é possível notar uma democratização e libertação de algumas questões, que antes eram ignoradas e, agora, acabam pautando a grande mídia, como telejornais e revistas de grande circulação. Um desses temas é os tabus relacionados ao sexo que, apesar de serem tratados com muito mais abertura, ainda se nota bastante machismo e romantização. Com essas constatações, trouxemos a educadora sexual Julieta Jacob para falar um pouco sobre essa influência e alguns assuntos ligados à sexualidade.

Julieta Jacob, que é formada em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sempre teve muito interesse em sexualidade e acabou se especializando na área.

ISTOÉ - Houve um verdadeiro frenesi, nas redes sociais devido ao lançamento mundial do filme 50 Tons de Cinza, principalmente pela parte do público feminino. Baseado numa obra homônima, a produção cinematográfica conta a história de Anastasia Steele, uma jovem insegura e tímida, com uma vida pouco interessante. Quando conhece Christian Grey, um homem mais velho e sedutor que, como em tantas outras histórias de amor, salva a mocinha da sua realidade sem graça e a leva para uma vida feliz ao seu lado.
Julieta, você diz em seu blog que procura explicar conceitos e quebrar preconceitos. Com a repercussão que o filme 50 Tons de Cinza vem causando, você acredita que as coisas tendem a mudar? Alguns tabus serão quebrados?

Julieta - Sim, o sucesso desse filme intrigou muita gente porque teve 1.000.000 de cópias vendidas e, agora, o lançamento do filme. Mas, na minha opinião, 50 Tons de Cinza, apesar do seu sucesso, não é, do ponto de vista sexual, uma referência. Não vi o filme ainda, mas já li muita resenha, então, de fato, o filme, seja ele uma boa obra cinematográfica, ou não, contribui para quebrar tabus porque, só em levar o público feminino ao cinema, a comprar um livro erótico – pode ser um livro erótico ruim, mas é um livro erótico – já quebra um tabu, que é mulheres se sentirem legitimadas e autorizadas a ler literatura erótica sem que isso fosse uma coisa vulgar, sem que isso fosse algo ruim pra elas.

ISTOÉ - Com o passar dos anos, se tem notado um início de vida sexual cada vez mais precoce entre os adolescentes. A que fatores você atribui este aumento significativo?

Julieta - Confesso que desconheço os números exatos dessa precocidade.  A média do Ministério da Saúde é 16 anos e não vi algo que me chamou muito a atenção, recentemente, dessa diminuição da idade de iniciar a vida sexual. Mas, sim, nós temos que entender sexualidade não apenas como ato sexual, mas o acesso à pornografia, a virtual principalmente. Cada vez mais precocemente as crianças já podem entrar na internet e ter acesso ao assunto pornográfico mais maluco. Sem querer classificar práticas sexuais, mas algumas são não saudáveis. A internet é uma grande responsável por isso (precocidade sexual) porque antes não tinha esse acesso. Antes da prática em si as crianças já podem ir à internet e nas redes sociais exercitar isso de alguma forma, vendo e interagindo com as pessoas e, fora isso, uma questão da educação sexual é que muita gente, que argumenta contra a abordagem desse assunto nas escolas, usa o argumento de que os jovens e crianças vão ser incentivados, estimulados a prática sexual, se o assunto for abordado em ambiente escolar ou se as famílias resolverem falar sobre sexo em casa. A Unesco fez um estudo em 2011, aproximadamente, que analisou grupos que tiveram educação sexual na escola e grupos que não tiveram. A conclusão é que não há diferença na idade de início sexual, ou seja, constata que a educação sexual não estimula ninguém a fazer sexo, ao contrário, existe uma tendência para as pessoas que recebem essa educação, adiem um pouco a primeira transa, porque têm informação, então não têm aquela ansiedade de praticar tão rapidamente. A educação sexual tem papel positivo nesse sentido, mas eu acho que a precocidade pode ser causada pela internet, que é uma forma de estimular isso. Outra grande causa é a ausência de discurso, a falta de conversa. A falta de vontade de conversar e o medo de achar que incentiva, estimula porque ninguém fala sobre, e aí o jovem pode ser levado a praticar o sexo para conhecer. Isso pode levar, sim, à prática sexual.


ISTOÉ - Se uma educadora sexual orientar os pais de adolescentes a vigiarem as redes sociais dos seus filhos, inclusive verificando com quem eles conversam e o conteúdo das conversas, eles não estariam invadindo a privacidade dos filhos ao agir de tal forma. O que você tem a dizer sobre isso?

Julieta - Rede social, internet, são assuntos importantíssimos dentro do contexto adolescente de sexualidade. Pai e mãe são as pessoas que podem ajudar na maturidade e na responsabilidade dos filhos, mas, de maneira geral, as redes sociais não são liberadas para menores de dezoito anos. Se esse filtro existe, tem uma razão de fato, por questão de maturidade e reponsabilidade. Pois, nas redes sociais, incluindo o whatsapp, existem muitos riscos, entre eles a pedofilia. A pornografia não é um risco em si, o risco está no adolescente ou a criança ter acesso a ela de uma maneira não mediada. De maneira geral, eu diria que crianças e adolescentes não deveriam ter rede social. Não é uma questão de simplesmente proibir, por que isso excitaria a curiosidade, uma construção proibitiva, seria feita uma construção de um dialogo que deve vir desde a infância dos pais com os filhos, sobre todos os assuntos e não só sexualidade.

ISTOÉ - Existem famílias com dificuldades para lidar com o assunto Homossexualidade com seus filhos. Diante de um cenário de grande exposição midiática dos tipos de sexualidade, qual a orientação adequada para dar a uma criança que presencie a troca de afeto entre casais homossexuais?

Julieta - Primeiro, a dificuldade vem do adulto. A criança, muito pelo contrário, não tem dificuldade nenhuma para entender e sim o adulto para explicar. E, bem, por mais que algumas pessoas digam “Ah, a pessoa tem amigo gay! Não tem preconceito e não quer passar preconceito para o meu filho”, muitas vezes o adulto tem amigos gays e isso não significa que ele não tenha um preconceito inconsciente, concorde ou ache que se o filho for exposto a um beijo gay vai virar gay, como se fosse uma varinha mágica. Então, há um desconhecimento sobre orientação sexual, que é multifatorial e, portanto, não é claro, de fato, como é formada; mas as pessoas se preocupam muito com a homossexualidade, muito! Ninguém estuda a heterossexualidade porquê ela é considerada naturalizada em nossa cultura e em nosso discurso. Se você vier a ser algo diferente do hétero teremos um problema, pois se espera que o menino goste de menina e a menina goste de menino. Até a perspectiva de saúde passa por aí. É o que eu digo, tudo vai partir de uma construção. Se você tem um diálogo legal com o seu filho sobre qualquer coisa e um casal na rua se beija - e ainda é um desafio para os homossexuais expor seu afeto nas ruas -, qual será a dificuldade de dizer que são duas pessoas se beijando? Claro, depende da maturidade da criança, mas você pode parar por ai porque existe também um medo de “até onde eu posso explicar a situação? Será que eu vou falar demais para o meu filho? Ou será que eu não vou falar de menos?” Então, acho que tem de haver um pouco de sensibilidade. Mas eu acho que estar aberto a um diálogo já é um grande começo. 




A dificuldade vem do adulto. A criança,
muito pelo contrário, não tem dificuldade
nenhuma para entender e sim o adulto
para explicar.”

ISTOÉ - A edição de fevereiro da revista Nova Escola traz uma capa com um menino usando vestido e tiara e abaixo da foto a frase "Vamos falar sobre ele?" Algumas pessoas nas redes sociais disseram que não era "ele", era "ela" enquanto outras disseram que com a idade dele (5 anos) ainda não daria pra ter noção de gênero. Então, existe algum termo pra um menino que se identifica com roupa de menina? Há uma idade "certa" pra já ser considerado transgênero?

Julieta - Essa questão da idade eu tenho lido em alguns artigos científicos, o último li em um jornal inglês, que falava de constatação de transgeneridade em crianças, assumindo que já na infância é possível diagnosticar um transgênero. Eu diria que entre 5 e 6 anos, é gerado a orientação sexual, mas isso é controverso, porque a personalidade ainda está em formação. Não estou falando de identidade de gênero, a orientação sexual já se definiria na infância. A revista nova escola, é uma exceção, ela está sendo alvo de críticas e aplausos ao mesmo tempo, por conta o titulo. Em relação  a questão da idade, existem estudos que dizem que pessoas já iriam aflorar isso na infância, e tem outros, e outras linhas que vão mais pra adolescência, a partir de 15 anos, pois na puberdade isso seria mais sedimentado. A identidade de gênero ainda é considerada um transtorno hoje em dia e os médicos estão em discussão sobre. Algumas pessoas preferem esperar um pouco para que isso se consolide, porque não é uma mudança tão simples assim. Isso é subjetivo, não dá pra achar que, pôr uma maquiagem, um batom ou gosta de cor de rosa, faz da pessoa homossexual ou transgênero, embora isso seja um pouco de homofobia potencial. O que acontece pela falta de informação de adultos que não entendem sobre o tema.

ISTOÉ - No ano de 2012 um caso que ganhou muita repercussão foi a atitude de um alemão que aderiu ao uso de saia por causa do filho de cinco anos que gostava de usar. O que você diria aos pais que passam por essa situação?

Julieta - Essa é uma pergunta bem complexa. Porque quando eu falo que o pai e a mãe são referências aos filhos, também cabem a eles dar limite, porque noção de limite é muito importante dentro da criação. Eu vi esse caso e achei linda essa história. Eu nunca posso generalizar, mas nesse caso específico é um menino que gostava muito de usar saia - e eu não sei até que ponto a família tinha conversado e explicado algo. É uma construção social e tem de ver também até que ponto você concorda com ela, porque a criança pode romper com esse papel social que as pessoas colocam para homens e para mulheres. Existe o fator de sofrimento e trauma de infância mesmo. Eu conheço histórias de pessoas próximas em que o menino acordava de manhã cedo e quando os pais o procuravam ele estava com o vestido da irmã, mesmo sabendo que não podia porque já haviam explicado a ele que aquilo não era adequado para um menino. Mas isso é algo que muitas vezes é maior, os pais tentam explicar diferente e esse comportamento continua acontecendo, e consequentemente isso leva a criança ao sofrimento, e eu acho que nenhum pai e nenhuma mãe quer ver o filho sofrer.







Nenhum comentário:

Postar um comentário